Título de capitalização é um bom “investimento”?

 

Uma amiga outro dia me perguntou se ao investir em título de capitalização havia feito um bom negócio? Não fiquei surpreso com tal indagação, apesar do questionamento ter vindo de uma pessoa que acompanha os noticiários diariamente. Tal fato, contudo, serviu para comprovar que grande parte da população brasileira não teve e (não tem) durante a fase escolar disciplinas que abordem questões acerca de finanças pessoais. Além disso, na fase adulta, muitos não possuem o hábito de buscar informações sobre o assunto. Pois bem, respondi que não considerava um investimento porque não rendia juros ao investidor após o período da “aplicação”, pois o cliente trocava a rentabilidade do dinheiro pela participação nos sorteios. A amiga em questão informou que contratou dois títulos: um de R$ 15,00 por mês com duração de 48 meses (total R$ 720,00) e outro de R$ 20,00 por mês com duração de 60 meses (total R$ 1.200,00) na expectativa de poupar e render seu dinheiro.

 

E como funciona este investimento para o banco? Desses valores pagos por mês uma pequena parte vai para a cota dos sorteios, uma parte é utilizada na taxa administrativa ou de carregamento e a terceira parte recebe uma quantia para a capitalização em si. Este produto é regulado pela SUSEP (Superintendência de Seguros Privados, órgão ligado ao Ministério da Fazenda), mas conforme determinam as regras do Banco Central que regula os bancos, ao término do contrato o investidor tem que receber de volta o valor aplicado com correção de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Porém, a correção do dinheiro é calculada de tal maneira que dá zero em relação à aplicação inicial, ou seja, a minha amiga receberá o valor original depois de quatro e seis anos, respectivamente R$ 720,00 e R$ 1.200,00, devido ao pagamento das taxas bancárias. Sem falar da perda real do dinheiro que não foi corrigido pelos principais índices da inflação. Por este motivo é um excelente investimento para o banco, a não ser que, a cliente seja sorteada e ganhe prêmios em dinheiro, mas essa possibilidade, meus caros amigos, é mínima. E tem mais, a perda pode ser ainda maior, se o dinheiro for sacado antes do prazo, visto que, ela terá que pagar uma multa pela desistência, é a chamada “regra de carência” que geralmente são de 12 meses. Se o pagamento não for feito por quatro meses, o título é cancelado e parte do dinheiro é devolvida, como se fosse um resgaste antecipado. Neste caso, comprar um título de capitalização é equivalente a guardar este dinheiro todo mês em um “cofrinho” porque não há rentabilidade. Embora alguns títulos sejam vendidos como uma “poupança programada” – o que não é, pois, investir mensalmente na caderneta poupança é mais vantajoso porque todo o montante é capitalizado.

 

E qual a finalidade do banco? Você acha que é emprestar dinheiro? Não meu amigo, banco na verdade “vende” dinheiro e nunca se esqueça disso. O gerente bancário, apesar de lhe atender, não está ali para defender seus interesses, e sim, o do banco que o contratou e paga seu salário. Eles precisam bater metas, por isso, mesmo cometendo um equívoco, o gerente vende título de capitalização como investimento. A partir de hoje, lembre-se de não mais delegar a responsabilidade de aplicar seu dinheiro da forma mais adequada aos seus interesses. É claro que você pode até escutar alguns gerentes, mas a decisão final deve ser sempre sua. Até o próximo encontro.

 

Edval Landulfo, Economista, Coach e Educador Financeiro

Artigo publicado no jornal Ei, Táxi maio 2014

 

 

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